Amarga Herança de Leo | Isabel Vieira N'O Reino Encantado de uma Leitora

Amarga Herança de Leo | Isabel Vieira

10 de jan. de 2017




Por Larissa Almeida     
Em 10 de janeiro de 2017

Na infância e adolescência Flora e Leo viveram um relacionamento que era considerado uma verdadeira "parceria cósmica". Mas o tempo passou e Leo se envolveu com as drogas e foi embora para Londres. Quando retornou, a transa trouxe o medo da AIDS. Após a morte de Leo, aos 21 anos, Flora - única amiga que sabe que ele foi vítima da AIDS - reconstitui a história de sua turma, tentando descobrir como e quando Leo foi contaminado. O final da obra em aberto evoca algo mais trágico: quais entre eles, inclusive a própria Flora, correm o risco de também ser portadores do vírus HIV?
O texto conduz à discussão das relações amorosas e do uso de drogas numa época em que amor e morte andam perigosamente próximos. Novela lírica, sincera e realista sobre as ambições que os jovens de hoje têm a respeito de sua vida sexual.
6ª Resenha do Reino Encantado

Amarga Herança de Leo | Isabel Vieira | 1999 | FTD | 162 páginas


Minha opinião sobre este livro:

Li este paradidático quando estava na 5ª série - ou novo 6º ano - e, particularmente, achei um livro muito avançado para a faixa etária para qual ele foi proposto. Dito isso, este foi o primeiro livro que verdadeiramente me chocou, marcou e me fez chorar. Também foi o primeiro que me decepcionou acerca do final; na época que li fiquei um bom tempo desejando que o final não tivesse sido tão misterioso, tão vago. A primeira frase do livro é um choque.

Embora a história seja sobre o Leo - e sua amarga herança -, é narrada por Flora, amiga e amante, de certa forma platônica, dele. Os dois se conhecem ainda crianças e iniciam quase que instantaneamente uma amizade intensa e um pouco doentia, na minha opinião. Leo é um jovem paquerador, galante, de bem com a vida e amante de rock'n roll. A Flora é uma garota bastante decidida (pelo menos para assuntos que não dizem respeito ao Leo), amável e simpática.

Flora tinha quatro anos e meio quando Leo entrou na vida dela. Ela estava fazendo uma visita à casa da avó e, quando chegou, se deparou com um garoto sorridente e muito galante para a pouca idade que tinha.

- Como você chama? - ele perguntou.
- Flora.
- Flora... - ele repetiu, estranhando. E, depois de um breve silêncio, num impulso galante de sedutor precoce, me estendeu uma florzinha amarela. - Então toma para você, Flora. Quase igual ao seu nome. Só falta o a.


A partir daí os dois desenvolvem uma parceria cósmica, como diz Leo; eles crescem juntos e fazem parte de uma turma de amigos legais que estão sempre juntos para o que der e vier. Contudo, durante a juventude, os dois vivem um romance romântico no pior sentido da palavra: paixão doentia beirando a obsessão e, por mais que não se sintam bem enquanto juntos, não conseguem se afastar um do outro. Como eu disse, Flora é bastante decidida exceto quando o assunto é o Leo e isso é muito chato pois transforma a protagonista de uma garota forte e com personalidade para uma menininha boba e fraca.

Um certo tempo depois, Leo viaja para Londres e lá faz novas amizades; amizades essas que o levam para a perdição, por assim dizer. Após voltar para casa, meses depois, ele é praticamente outra pessoa: não liga para os amigos antigos, só pensa em festas, bebedeiras, farras e drogas. O garoto doce, galanteador, talentoso e impulsivo se fora e dera lugar a um jovem bêbado, drogado que busca ficar com as mais variadas mulheres. A única parte boa da descoberta pela vida que Leo fez enquanto estava em Londres foi The Beatles, The Doors e Jimi Hendrix.

Flora sempre fora apaixonada por Leo. Contudo, após se pegar mais uma vez chorando pelo garoto, ela nota que os dois juntos acabam sofrendo mais do que quando estão separados. Decidida a se afastar (finalmente!), eles se despedem da maneira como apenas dois amantes podem se despedir. Confesso que chorei nessa parte, nunca lidei bem com despedidas.

Flora inicia então um relacionamento com Tómas, um cara simpático e gente boa. Ela se sente finalmente feliz, sente dando um rumo adequado para sua vida. Pelo menos até Leo pedir para a encontrar novamente, pela última vez, para terem uma conversa séria. Nesse momento da história eu realmente joguei as mãos para cima e quase larguei a leitura, pois achei que seria mais do mesmo: Leo a chamaria, Flora se transformaria em uma manteiga derretida e largaria tudo para ficar com ele. Mas não. Me surpreendi com o quão maduro e responsável Leo estava durante aquela conversa; com o quão resignado ele estava também.

Leo fizera um exame de sangue sem ninguém saber e decidira que Flora era a única pessoa que merecia, por determinados motivos, saber do resultado: ele era HIV positivo, e ela podia ser também já que tiveram uma relação sexual sem proteção não fazia muito tempo. Não é exatamente spoiler (já que está na sinopse) dizer que pouco tempo depois Leo morre vítima de AIDS e Flora é a única a saber a causa da morte dele.

A Amarga Herança de Leo possui várias ilustrações, uma mais bonita que a outra. Agora, a mais bonita que achei foi esta:

Não gostei do final aberto do livro pois não ficamos sabendo se Flora foi ou não contaminada (se foi, quer dizer que pode ter contaminado o namorado, Tómas, também). Mas o final aberto é proposital, de acordo com a autora, já que ela quis alertar sobre o risco. O risco de bobear e acreditar que o amor protege. Com relação ao HIV, não protege. No final não sabemos o que Flora faz após ter sido confrontada com a possibilidade de ter uma doença grave e bastante mortal, para a época. Eu realmente gostaria de saber a decisão que ela tomou.

Este é aquele tipo de livro que choca ao trazer uma lição de vida. Faz você pensar: e se? E se Leo não tivesse viajado para Londres? E se ele não tivesse tido contado com drogas e relações sexuais sem proteção? E se Flora e ele não tivessem se envolvido sexualmente naquela noite? E se...?
Essas inúmeras questões me deixaram com um aperto no coração e fizeram me perguntar o que poderia ter sido feito para que a história deles terminasse de modo bastante diferente.


Adicione na sua estante!

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